sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Sessão Contos Bizarros: Metamorfose da Vaidade


Muitas pessoas costumam se olhar no espelho e não gostam do que veem. E Leandro não era diferente dos demais garotos que estão saindo da fase da puberdade. Magro, alto e com o rosto cheio de espinhas e com andar desengonçado típico de qualquer adolescente na fase dos 14 a 19 anos. Leandro como todo jovem gosta da música de sua geração, usa roupas que estão na moda e fala a gíria idem.
Mesmo não sendo o mais popular do colégio ele até tinha alguns amigos que como ele tinham gosto por algo em comum: videogames e quadrinhos! Todos os jogos on line ou que podia rodar em seu Xbox ele já havia zerado. Todas as revistas dos super heróis made japan também já havia consumido com gosto. Enfim, poderia ser mais um jovem que se vê nos corredores da escola, no shopping ou em algum show por aí.
Mas como falei na primeira linha desta história nem todo mundo gosta de se olhar no espelho, e com Leandro o ato de se admirar estava bem em baixa mesmo. O apelido de 'gafanhoto' por ter o corpo muito esguio e alto não lhe trazia nenhum sentimento bom. Para piorar além das espinhas que deixavam a sua pele nada agradável de se ver ele também, tinha certo grau de miopia.
Arrumar alguma garota na escola (para supor) não era nada fácil. Ás vezes ele até conseguia sair com alguém, mas a galera zoava dizendo que ele havia pago a garota para sair com ele ou ela teve dó do coitado. Os valentões e os usuários de drogas praticavam bullying no garoto. Diversas vezes no escuro do quarto Leandro chorava, se deprimia e até amaldiçoava os garotos que zombavam dele.
Alguns meses atrás uma linda estudante entrou na sala de aula que ele frequentava. Jéssica era o nome da menina e não somente Leandro prestou atenção na garota. Um dos valentões que zombavam de Leandro chamado de Jefferson se enturmou com a recém chegada estudante. Leandro ficou triste em ver que a linda garota começou a ter um caso com o valentão da escola. O menino tímido sonhava e suspirava apaixonado pela menina. Porém, ele sabia que Jefferson era mais bonito e forte que ele.
Um dia Leandro passou perto de uma academia de musculação perto da sua escola. Ficou admirado com as mulheres de corpos esculturais que entravam no lugar e ficou abismado com os caras musculosos que entravam e saiam do recinto. Ele imaginou como seria sua vida se resolvesse fazer musculação: " Com toda certeza, a Jéssica ia me notar seu fosse forte!".
Com esta ideia na cabeça, o menino magrelo resolveu frequentar a tal academia. Nos primeiros meses passou por vários exercícios e todas as parafernálias de musculação pesada que podia. Infelizmente, o garoto não mudou muito além de adquirir algum tônus muscular modesto. No fundo, Leandro queria ficar igual aos super heróis que via nos gibis.
Curioso o menino resolveu consultar o personal da academia. O cara era enorme igual a um armário. As mulheres ficavam suspirando por ele e os caras da academia o invejavam, seu nome era Claudio. Com cara de poucos amigos Claudio resolveu conversar com o menino magro e cheio de espinhas:
- E aí moleque o que você quer saber?
-Eu queria saber como é que você ficou forte desse jeito? Foi somente treinando pesado?
-Cara é o seguinte, eu tenho os meus métodos sabe... eu sou forte porque faço algumas 'coisas especiais'.
-Que coisas são essas? Me ensina cara, por favor!
-Pô moleque! Eu tomo umas coisas que me deixam forte. Se você toma vai ficar fortão rapidinho que nem eu!
Leandro sabia que o personal estava falando dos anabolizantes e até já havia visto na tv e na internet informações nada boas para quem quer se aventurar nestas coisas. Pensou um pouco e resolveu saber mais:
-Me fala aí, o que se toma?
-Ah cara... eu tomo um coquetel bem legal. Se tu tomar eu juro que tu vai virar o Hulk.
Leandro ficou feliz com a comparação (imagina virar o Hulk). O menino magrelo viajou na ideia de ficar tão forte quanto o seu rival o Jefferson e ainda de quebra conquistar a garota do seus sonhos. Percebendo que o menino ficou afim dos produtos o inescrupuloso personal começou a falar:
-Moleque eu tenho um coquetel bem aqui na mochila e ainda posso te arrumar mais e só você pagar uma nota e tu vai ficar tão forte que vai rasgar as camisas que usar.
Leandro então começou a pegar a sua mesada que gastava com videogame e revistas em quadrinhos e usar para comprar anabolizantes.
No início o personal injetou no menino um pouco de Dianabol, depois Stanozolol e enfim o famigerado GH. Não deu três meses e Leandro já estava ficando com os biceps avantajados  e com o jeitão de fisiculturista. Sua mãe e seus amigos mais íntimos estranharam de início a abrupta transformação do garoto franzino em super homem. Claro, que a nova silhueta do moleque logo chamou a atenção da escola. De vítima de bullying, agora Leandro era admirado e invejado.
Se tornou um cara chato. Se gabava de levantar mais de 125 Kg com um braço. Em toda festa que ia sempre procurava tirar a camiseta e se mostrar para as garotas. Procurava brigas para mostrar a sua força e e por aí vai...O gosto pelo fisiculturismo o fez participar de vários campeonatos de musculação e a cada vitória queria mais. Toda a grana que arrumava gastava em GH e outros anabolizantes.
Sua mãe percebeu que o filho estava estranho: ficava agressivo sem motivo, tinha dificuldades para dormir e de vez em quando reclamava de dores abdominais e nos locais em que injetava os produtos errados. A mãe preocupada pedia para ele ir ao médico, mas Leandro dizia que estava bem. Ia até o banheiro se olhava no espelho e gostava dos músculos que tinha.
Certa vez percebeu que sua cara estava estranha, mas não sabia o que era. Percebeu que depois que começou a tomar uma droga nova receitada pelo personal algo não estava bem. Parte de seu crânio havia ficado maior que o normal e seus braços que antes tinham uma silhueta definida mais pareciam monstruosas com veias sobressaltadas e deformadas. Sua barriga tinha um vermelhidão e estava alta  e dura como uma bola.
Depois disso em dois meses Leandro ficou esquisito, sua forma humana havia desaparecido. Sua mãe com medo do filho o trancou no quarto. Leandro já não conseguia falar e começou a ter que grunhir. Não deu nem um ano e o moleque já estava morto em sua cama. Quando os bombeiros chegaram viram que o corpo  do rapaz exalava até um cheiro diferente. O pior, para o susto deles é que Leandro mais parecia um bicho que um ser humano. Tudo porque ele só queria ser o cara mais bonito da escola...


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