quinta-feira, 16 de abril de 2015

Sessão Contos Bizarros: Um Colapso no Tempo


Valdemar acordou como de costume as 5h da manhã. Com o olho inchado e andar tropego escovou os dentes. Em seguida voltou ao quarto e foi no guarda roupa procurar uma calça jeans e uma camiseta descolada. Marta, sua esposa, já estava de pé ha muito tempo e havia feito aquele café que só Valdemar gosta. Depois de tomar o café foi para o serviço: Valdemar tem uma lojinha de celulares na feira dos importados de Taguatinga.
Trabalhou o dia como de costume tentando ver se lucrava com algum produto. Enquanto labutava Valdemar lembrou que naquela tarde deveria comparecer ao cemitério. Soube através do Rubens (o dono do boteco que Valdemar frequenta nos fins de semana) que um conhecido de infância havia falecido. 
Quando deu no relógio 13h da tarde, Valdemar fechou a loja e colocou um cartaz na porta informando que  estaria resolvendo algo importante (muitos clientes ficarão 'chiando' pensou ele). O comerciante chegou cedo ao velório. Abraçou os parentes do falecido e ficou em silencio diante do caixão que descia a cova de sete palmos feita pelo coveiro de cara amarrada.
Com o fim do velório e muito tempo de sobra, Valdemar resolveu dar uma volta pelo cemitério. Percebeu que era um lugar cheio de árvores e muita grama e até tinha uns túmulos bem cuidados. Mesmo assim, com todo o cuidado merecido ainda era um lugar de tristeza e pesar. O comerciante calvo viu que havia muitas famílias chorando ou rezando por algum ente que deixou este mundo. 
Enquanto andava por entre os túmulos, Valdemar parou para ver um mais de perto. Não acreditou quando leu em uma lápide o seguinte nome: Valdemar filho Junior 1980 - 2010. Assustou ao ver que o nome e o sobrenome era igual o do seu RG. Até a data do nascimento era igual! viu que na lápide também tinha uma fotografia, mas estava velha por estar exposta a chuva e o calor excessivo. 
Valdemar tentou olhar a imagem mais de perto e com esforço percebeu que o rosto que estava na bendita foto era a sua quando mais jovem e cabeludo! 'Isto não pode estar acontecendo!' dizia consigo mesmo. Transtornado o comerciante foi até a administração do cemitério e foi atrás de saber que brincadeira de mau gosto era aquela. 
A atendente bonita e de cara de poucos amigos o recebeu com má vontade:
- O que o senhor deseja?
-Quero saber sobre o túmulo do Valdemar Filho Junior.
-O senhor é o que dele?
- (Pensou em uma mentira rapidinho) Sou o irmão dele!
A moça foi procurar os documentos referentes ao túmulo e depois da investigação trouxe as informações que Valdemar procurava:
-Bem, o túmulo do seu Valdemar está com as taxas de manutenção atrasadas. 
-Quem foi que pagou o enterro? Sabe eu não pude comparecer, estava viajando... (inventando mais mentiras).
-Aqui diz que quem pagou foi a esposa: dona Marta Leite Junior.
Valdemar não acreditou na resposta. Coçou a cabeça calva e sem falar mais nada com a atendente saiu em desabalada carreira para casa.
Chegando em casa, Valdemar entrou casa a dentro e encontrou sua esposa na cozinha cortando um bife para cozinhar na panela. Com as mãos tremulas o comerciante tentou tocar no ombro da esposa que estava de costas. Marta então resolveu iniciar a conversa:
-Como foi o dia meu amor?
-Estive no cemitério hoje e você não sabe o que aconteceu! ( falava de forma assustada e esperando a surpresa da mulher).
-Vixe! Esqueci de dizer a você. Eu devia ter dado o dinheiro da taxa de manutenção do túmulo do meu marido falecido.
Valdemar não entendeu o que Marta estava dizendo e surpreso perguntou:
-Do que você está falando mulher? Eu sou o seu marido!
-Eu sei. Mas nunca vou esquecer do Valdemar, o meu primeiro marido, e que Deus o tenha num bom lugar.
-Isso só pode ser uma brincadeira o que está havendo? Como assim o Valdemar morreu?
-Ué! Esqueceu que o meu marido Valdemar morreu em 2010 de acidente de carro na EPTG.
Um frio subiu na espinha. Valdemar não estava acreditando naquela cena. Sua mulher falava de forma tão franca e normal que ele se assustou. Confuso saiu correndo de casa e entrou em seu FIAT Uno usado. Marta gritava para ele voltar mas, o comerciante saiu a toda pela estrada.
Enquanto guiava o seu carro pelas estradas da Comercial Norte, Valdemar tentava entender o que estava acontecendo. Ficava se perguntando se não estava louco ou algo parecido. Esmurrava o volante e mordia os lábios com toda força. Logo começou a chorar e a gritar pela rua. 
Enquanto guiava desesperado, o condutor não viu que seu carro entrou pela EPTG na contra mão. Na mesma estrada vinha um caminhão cegonha que também estava em alta velocidade. Surpreso, Valdemar se assustou em ver que o seu carro estava a poucos metros do caminhão. Não deu nem tempo de desviar e os dois veículos se chocaram! 
Um silencio se fez. Tudo estava escuro. Valdemar então acordou pontualmente as 5h da manhã. Escovou os dentes e depois de tomar o café gostoso da Marta foi para a sua lojinha na feira dos importados. Tudo transcorreu normalmente. Ás 13h ele foi ao velório de um conhecido, enquanto ia para o cemitério Valdemar teve uma sensação de dejavi (como se ele estivesse passando por tudo aquilo novamente) e participou de todo o velório. No fim resolveu dar uma volta pelo recinto e se deparou com uma lápide que por alguma razão ele pensava já ter visto. Foi até ela e então para o seu estranhamento estava escrito um nome: Valdemar Filho Junior 1980-2010. ALGUMA COISA ESTAVA ERRADA!
   

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