domingo, 6 de julho de 2014

Sessão Contos Bizarros: O Fantasma da Casa da Colina


No interior de São Paulo, existe uma enorme mansão, ou melhor um hotel que fora abandonado no início dos anos 90. O enorme casarão fora construído ainda nos meados da década de 30. Foi um dos momentos de maior prosperidade da aristocracia paulistana e como muitos fazendeiros já previam, o mercado imobiliário seria um setor tão lucrativo quanto o agronegócio.
Homens bastante ricos começaram a construir enormes prédios visando criar hotéis  e no caso do seu Adamastor ele não era um homem diferente dos demais. Com muitas terras agricultáveis em seu nome, seu Adamastor que ficara rico com plantação de café, resolveu investir no ramo imobiliário. Logicamente que ele estava indo contra o seu pai (homem da terra e que acostumara a ver somente futuro no plantio). 
Dando de ombros para as criticas de amigos e do seu pai, resolveu construir um hotel na colina mais alta da região. Qualquer pessoa podia avistar a obra e esta era a intenção de Adamastor. O lado de fora do hotel já era bastante chamativo: cheio de colunas gregas e vãos e janelas de estilo rococó. Na frente do palacete um enorme jardim bem ao estilo da aristocracia francesa e claro, dentro do recinto mais de 30 quartos com tetos decorados com candelabros e desenhos nas paredes de arabescos e florais barrocos. 
Adamastor no início por ciume da recém construção pensou em ir morar nela. Porém, o dinheiro falou mais alto e ele resolveu transforma-la em um hotel. Turistas de outros países e afortunados do Brasil resolveram hospedar no hotel do fazendeiro. 
Um dos hospedes era uma russa alta de pele branca cor de neve e olhos verdes penetrantes. Seu nome era Natasha e segundo alguns diziam ela era escritora. Adamastor nunca foi chegado a leitura então, para ele isto era irrelevante. Contudo, a beleza da moça lhe chamava atenção. Para transparecer gentileza, como bom anfitrião, ele resolveu convida-la para um jantar. 
Com uma surpreendente habilidade em nossa língua ela aceitou e pediu em um bom português que adoraria provar da nossa cachaça (bebida bastante falada pelos europeus que visitavam o país). Há noite os dois então se encontraram no restaurante do hotel. Ela estava com seu vestido mais bonito e formal e ele usando fraque bem ao estilo europeu.
Enquanto jantavam e bebiam eles iam conversando sobre de tudo um pouco. Natasha dizia estar fascinada pelo Brasil e principalmente pela alegria das pessoas e o colorido de tudo. Já Adamastor fingia que entendia a cultura russa e falava do frio e da beleza da neve e dos alpes ( mesmo sendo rico Adamastor nunca saiu do Brasil e destetava viajar). 
No meio da acalorada conversa Adamastor perguntou sobre a profissão de Natasha, ele não escondia o fascínio de conhecer uma escritora, não era comum em nosso país ver  uma mulher lendo e ainda mais escrevendo algo (não esqueçamos que estamos na década de 30). Natasha estranhava tal fascinação, já que em seu país há muito tempo as mulheres tinham acesso a leitura e a escrita. Ela então falou que escrevia livros sobre lendas européias. 
Adamastor mais uma vez resolveu fingir que entendia algo e disse de forma arrogante que no nosso país também tinha muitas lendas principalmente indigênas. Natasha então abriu os cintilantes olhos verdes de admiração e pediu para Adamastor contar alguma lenda. O fazendeiro que somente juntava dinheiro e nunca se informou de nada dizia que naquele momento não lembrava de nenhuma lenda, mas que contaria mais tarde alguma para a moça.
Depois de bem bêbados pela cachaça, Adamastor resolveu dar por encerrado o jantar. A escritora bem alegre perguntou se ele ajudaria a leva-la ao seu quarto. O fazendeiro então mostrou mais gentileza e deu a mão para a moça e prometeu guia-la ao seu quarto. Após uma boa caminhada pelo hotel os dois chegaram ao destino. A escritora agradeceu ao jantar dado pelo anfitrião e disse que adoraria sair novamente com ele. Adamastor todo envergonhado  disse que estaria a seu dispor. 
Quando o fazendeiro ia dando as costas para a moça, ela resolveu chama-lo e disse para ele entrar em seu quarto. Com o rosto vermelho Adamastor aceitou meio que sem graça (no fundo ele ansiava por isto) e entrou no quarto de Natasha.
A moça pediu para ele sentar na cama enquanto ia ao toalete. Adamastor ficou lá sentado na cama meio que sem jeito (flertar não era muito o seu forte). Olhava para o quarto e percebeu que nunca havia estado nele mesmo sendo dono do hotel. Olhou para o lado e viu que Natasha tinha umas estatuetas bem engraçadas ( na verdade eram imagens de deuses orientais) e muitos livros jogados pelo chão. 
A moça então voltou desta vez sem vestido. estava em um babydoll preto. Adamastor não disfarçou o olhar e viu que a moça era tão bonita de corpo quanto de rosto. O fazendeiro percebeu que a moça era bem mais alta que parecia e que tinha pernas longas e coxas grossas. Natasha sabia que estava seduzindo o anfitrião e de forma rouca pediu para ele vir para perto dela que resolveu sentar em um tapete próximo a cama.
Ela disse então para ele:
-Vamos fazer uma brincadeira. Feche os olhos!
Adamastor pensando em outra coisa não pensou duas vezes e foi logo fechando os olhos. Enquanto fazia isto, Natasha dizia que em sua terra havia dois tipos de mulheres: as que governavam a natureza e as que eram controladas por ela.
Começou a falar que em sua família, a sua bisavó era uma controladora da natureza. Que ela conseguia controlar os ventos, as chuvas e até a vida e a morte só com o pensamento. Adamastor com os olhos fechados ouvia a tudo, todavia o que ele mesmo pensava era em receber um beijo da russa. Enquanto ele ouvia tudo de olhos fechados Natasha tirava o seu fraque e desabotoava a sua camisa. O fazendeiro então fez surgir em seu rosto um sorriso maroto pensando no que viria depois.
Natasha então continuou a sua história. Dizia que para as mulheres que controlam os elementos da natureza era preciso fazer um ritual. Adamastor tão concentrado na imaginação dele nem mais prestava atenção ao que a moça falava. Ela continuou falando que o ritual para ser realizado precisava de sangue masculino e bem jovem. 
Ela então disse:
-Abra os olhos, meu amor!
Quando Adamastor abriu seus olhos viu então um brilho de uma faca que Natasha segurava e que foi diretamente em seu pescoço. O sangue jorrou de sua jugular e molhou a roupa da moça assim como o rosto dela. Sem poder reagir Adamastor sangrou até morrer. Caiu de cara sobre o tapete manchou todo o assoalho de vermelho vivo. Natasha pegou uma tigela de prata e coletou o sangue que vertia do pescoço do homem. De vez em quando ela lambia o pouco do sangue e seus olhos deixavam de ser verdes para terem um tom amarelado e seus dentes cresciam como caninos de um cão.
No outro dia, Natasha resolveu pegar as suas coisas e sair do hotel. A arrumadeira viu que o quarto ficou impecável com a saída da hospede. A escritora voltou para a Russia e depois de um mês lançava um novo livro sobre bruxarias e lendas. Enquanto isso, Adamastor nunca mais foi visto. Seus familiares estranharam o seu desaparecimento, porém continuaram o seu negócio até ele falir em 1992. Hoje o hotel de Adamastor é um local abandonado e que nenhuma imobiliária consegue vender. Dizem que é por causa do fantasma de um homem de fraque que perambula pelo recinto. 

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