segunda-feira, 8 de abril de 2013

O mito e a Verdade


Desde que o homem começou a andar pela Terra, ele procura saber a sua origem e o por quê  de sua existência. Na busca de respostas o homem criou os mitos para tentar aplacar as suas dúvidas e seus temores. A ideia de que fomos concebidos por alguem ou por um grupo de seres superiores nos conforta diante de fatos iminentes como a solidão no universo e a temivel, porém irreparável morte.
Falo sobre isto, porque sinto que na maioria das vezes a fantasia (ou mirabilia) parece nos guiar neste mundo. Estava conversando com alguns alunos da EJA há uns dias atrás- falava a eles sobre a arte e a cultura grega- e como as idealizações do mundo apolineo dos estatuários de homens e mulheres de mármore de corpos perfeitos eram como normas estéticas em nossas vidas.
Críticava as imagens dos galãs e das mocinhas de novelas e cinema como uma representação inconsciente da beleza grega que nos foi vendida como uma verdade absoluta. Uma busca que as sociedades ocidentais criaram para si e impõem para outros povos e culturas adversas.

O que mais me chamou a atenção foi falar para eles sobre os mitos gregos: os feitos de Hercules, a guerra de Tróia e histórias que para muita gente eram vista como reais e não como sempre foram metáforas ficcionais criadas pela sociedade grega para ensinar valores morais e pensamentos filosóficos.
Assim como a Caverna de Platão não é um fato real, também a guerra de Tróia tem suas fantasias. Falei que a guerra não foi motivada por uma mulher bela, e sim por fatores políticos e econômicos. Também falei que personalidades como Aquiles e Helena de Tróia eram mais personagens poeticos que seres reais e que talvez, se existiram não eram tão miticos como se via nos filmes ou no conto de Homero.
Depois me veio o remorço em ver a tristeza de muitos alunos que passaram a vida toda acreditando em mitos gregos como algo real. Aliás falar de mitologia e algo delicado, pois queiramos ou não ela esbarra em algo muito dificil de discutir : a religião.

Todo o mito acaba alicerçando uma fé e se o mito é uma invenção o que dizer então da religião? Sempre procurei falar aos meus alunos que não existe uma religião única que possa ser a verdade para tudo ( geralmente os cristão acham que somente eles sabem a verdade) e que  cada cultura e sociedade cria a fé que lhe convém melhor explicar o complicado mundo.
Aliás digo, que foi por causa da ideia de verdade absoluta que milhares de pessoas morreram em guerras religiosas durante todos estes milênios. Na ânsia de impor uma verdade que alguns 'iluminados' acreditam terem chegado, muito sangue é derramado e muito préconceito e fomentado. Não quero derrubar a fé de ninguém (quem sou eu para fazer tal coisa?!) e acredito que a verdadeira crença prega a paz e a união independente da cor, da sexualidade ou do idioma.
É comum alguem achar que só a religião do outro é que é fantasia ou loucura (mas quem pode se achar totalmente lúcido?) e que a sua é baseada em verdades irrefutáveis. Pior quando existe a demonização da cultura do outro dizendo que a crença dele é do mal e a sua é do bem. No fim o que fica é o mito!
Recentimente vi um filme bastante esclarecedor: 'As Aventuras de Pi', na qual um sobrevivente de um naufrágio conta de forma fantástica como sobreviveu no mar aberto. No fim quando termina de contar a sua versão da história o narrador pergunta se está é a verdade que a plateia que ouvir ou escutar uma outra versão. É como se mito e verdade brigassem por espaço na vida do narrador e como a sua platéia prefere o primeiro em vez do segundo. Ao final, assim como o personagem do filme, a platéia prefere o mito, pois a verdade é muito dolorosa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário