sábado, 5 de maio de 2012

Escrevendo um romance: 20ª Parte

CAVALEIROS E EXORCISTAS

©2012 Paulo Af.
Esta obra é uma ficção, não tem dados históricos oficiais reais e todos os personagens são fictícios, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

NÃO MATARÁS

Passamos pelos portões escancarados do combalido castelo de Atila com a relíquia como espólio de guerra. Naquele momento a comemoração devia ser posta de lado. Os nossos inimigos estavam em nosso encalço e sabíamos que se vacilássemos seriamos presas fáceis.
Os guerreiros guaranis, a pé, cientes do terreno sumiram entre as arvores com uma rapidez inacreditável. Nós que estávamos a cavalo corríamos em um tropel barulhento que fazia uma revoada de pássaros tomarem conta do céu azulado da ilha.
Com o tempo os soldados karanyos de Atila já não estavam seguindo o nosso rastro, com certeza, preferiram cuidar do seu líder mortalmente ferido. Ainda estava recente em minha memória a mão decepada de Atila que o monsenhor cortou com a espada.
O grito do inimigo era quase um trovão que ecoava no salão do castelo e o jorro de sangue manchava o solo. Tive pena de Atila, que agora maneta, não poderá empunhar a espada como antes.
Quando chegamos a aldeia guarani já era noite. A luz da lua fazia brilhar nossas armaduras sujas e amassadas da batalha. Michelangelo e Aquiles desceram de suas montarias e em seguida ajudaram Buldica e Diana. Eu desci do cavalo sentindo que o meu peso parecia maior que antes. Desejei deitar no chão da aldeia de tão cansado.
Um dos soldados guarani veio nos receber junto com o pajé. Este sorriu e como se fossemos deuses ajoelhou-se diante de nossa presença. Esta demonstração de carinho e obediência provocou lagrimas em Michelangelo. Bonelli ainda com a lembrança de Enrico na mente estava cabisbaixo e sumiu por entre os índios. Deve ter ido chorar pelo nosso amigo morto em batalha.
As índias receberam seus maridos guerreiros junto com seus filhos. Na hora fiquei feliz e depois me veio a melancolia de não ter ninguém para me esperar. Olhei para Diana e ela abraçava a sua irmã com ternura (eu gostaria de receber tal abraço).
De repente enquanto divagava alguém tocou em meu ombro. Era o monsenhor que sorrindo veio me cumprimentar pela luta:
-         Francisco! Lutou muito bem para um noviço. Agora vejo que és um homem! A fase de menino se foi com seu habito manchado de sangue.
Olhei para a minha vestes e percebendo o quanto estava sujo de sangue de outros guerreiros veio a minha mente a lei dos Dez Mandamentos: ‘Não Matarás’.
Uma tristeza veio ao meu coração. Meu semblante de guerreiro se foi. O monsenhor Aquiles percebeu e me consolou:
-         Não fique assim! Eu também fiquei em duvida sobre a minha fé depois da primeira batalha. Depois, Deus me aliviou o coração e não senti mais remorso algum.
As palavras de Aquiles me deram alivio. Aproveitei e fui no rio me lavar, pois o cheiro de sangue e sujeira me incomodavam.
Antes de ir para o rio, porém, pude escutar a conversa de Diana e Aquiles: ela queria que o monsenhor cumprisse a sua promessa de partir da ilha, agora que recuperou a relíquia sagrada. Persuadiu o monsenhor dizendo-lhe que a qualquer momento Atila poderia aparecer e retomar o que perdeu com um número maior e mortal de soldados.
Aquiles parecia duvidar de tal revés. Diana, contudo, justificou que mesmo que a aldeia guarani tivesse muitos guerreiros, também tinha muitas mulheres, velhos e crianças e assim seriam presas fáceis para o exercito de Atila.
Depois Diana perguntou se seria justo derramar tanto sangue inocente para o nosso Deus. Aquiles pensou por um momento e concordou com a guerreira amazona. Ele prometeu que depois de um descanso iria levar seus soldados embora. Todavia, ele disse também, que antes de partir gostaria de falar com Yara, a rainha das águas, mais uma vez.
Diana aceitou a proposta e disse que ele teria tal audiência com a sereia. Então, foi para o rio se lavar junto com os outros guerreiros. Depois, do banho o pajé nos convidou para comer a carne de um animal desconhecido que ele chamou de paca e de um outro chamado de tatu. Os índios acenderam fogueiras e com suas flautas de bambu dançaram e tocaram a noite toda para comemorar a nossa vitória.


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