terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Escrevendo um romance VIII: 8ª Parte

CAVALEIROS E EXORCISTAS


©2011 Paulo Af.
Esta obra é uma ficção, não tem dados históricos oficiais reais e todos os personagens são fictícios, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.


A VISITA DO DIABO

Aquiles ficou muito estranho após o encontro com a rainha das águas. Passou dias indo as cascatas esperando encontra-la. Mesmo com toda à vontade de vê-la nada de bom acontecia nas águas brilhantes do rio. Pensou em ir a aldeia das amazonas e pedir a Diana uma audiência com a sereia. Depois, mudou de pensamento, pois, sabia que as amazonas já não estavam tão receptivas como antes.
Um dia ele me procurou aflito, estava com os olhos sobressaltados e com a respiração ofegante. Pediu para que eu ler para ele o evangelho na qual Jesus expulsa um demônio de um possesso e o lança a uma vara de porcos que se jogaram em um despenhadeiro. Em seguida pediu que eu rezasse com ele umas dez ave-marias e vinte padre-nossos. Realizamos tudo e só assim ele conseguiu calma.
Depois resolveu contar o motivo de tanta aflição e medo. Peguei um papel e uma pena e coloquei-me a escrever:
-         Estava dormindo quando o nome de Yara me veio a mente. Desejei que Deus tirasse o nome dela de minha boca. Porém, quanto mais eu orava mais a imagem da sereia aparecia nítida como um espelho em meu pensamento. Tentei esquece-la pensando em outras coisas, como as nossas batalhas aqui e em Jerusalém. Contudo, do nada me veio perfume da sereia em minhas narinas e os seus olhos azuis aparecem no espaço como ametistas de um rajá. Dormi imaginando os seus seios volumosos por baixo das velhas conchas que os cobriam e pensei em estar acariciando o seu ventre delgado. O perfume parecia mais forte e tinha a impressão que sua voz suave estava entrando em meus ouvidos junto com o zumbido do vento frio da noite. O meu corpo ficou retesado e meu quadril fez um movimento de retenção. Percebi que estava me entregando ao prazer carnal! Não sabe irmão o quanto para nós homens celibatários é complexo e doloroso cortar a raiz do mal do desejo! A vontade pela Luxuria! Quanto mais o meu órgão fálico ficava reto, mais eu sentia que Yara estava comigo. Eu sentia que a tocava e mesmo que não a vendo com os olhos carnais a enxergava com os olhos d’alma. Por quanto tempo eu não jorraria o liquido da vida com tanto libido guardada? Poderia um homem de fé como eu agüentar ao prazer? Por muitos anos me guardei, nunca sequer tentei olhar ou admirar algum corpo feminino. Para mim somente Deus bastava! Mas agora percebo o engano... Nunca mais consegui esquecer os longos cabelos negros e os olhos azuis de Yara! Ela é o meu ponto fraco agora e o Diabo sabe. Enquanto desejava a sereia, Satã enviou para destruir o meu sonho uma sucubus (demônio fêmea). Ela tinha uma enorme boca no ventre como os tupinambás, porém dentes mais afiados! Seus olhos negros como a escuridão e seus dois cornos pontudos me assustavam! Um calor e cheiro de enxofre subiram no ar e substituiu o perfume da sereia. O demônio fêmea sustentava uma espada maior do que qualquer guerreiro! Era flamejante e como a cor da pele do monstro era vermelho sangue. A sucubus tocou em meu órgão fálico. Era uma cena repulsiva. Ela aproximou sua face deformada perto da minha e de escárnio lambeu o meu rosto. Maldito cão do inferno por que não me deixa em paz? Em resposta a fera soltou uma gargalhada. Acordei assustado e com o jorro da vida sobre o meu ventre. Tive asco de mim e fui me lavar no rio. Depois disto nunca mais consegui dormir como antes.


Após este relato do monsenhor Aquiles, percebi que mesmo o homem mais reto, ainda pode ser vitimado pela ação do demônio. Lembrei-me das Tentações de Santo Antão e de como o mártir sofreu para alcançar o Céu.

Helio Medeiros terminou a leitura e com cansaço na fala parou. Por um instante o silêncio tomou conta do recinto. A balburdia depois começou entre os ouvintes da palestra e aos poucos Helio foi percebendo que sua tese realmente chamava a atenção. Vendo a oportunidade para conversar com a platéia falou:
-         Podemos até aqui promover um pequeno debate. Alguém tem uma pergunta para fazer?
Aos poucos varias mãos levantaram em meio à platéia. Um garoto de óculos grande e magro com um suéter vermelho pegou um microfone que circulava pelo recinto e perguntou:
-         O que o senhor pode nos dizer sobre os exorcismos praticados pelos monges?
Helio impostou a voz e respondeu:
-         Acredito que o relato de Francisco seja o caso mais comum de ato violento dos colonizadores. No inicio eles são afáveis com os nativos, mas depois quando não são atendidos passam a destratar e destruir as tribos que possuem resistência as suas intervenções.
Uma outra mão levantou, desta vez de uma jovem de vinte e poucos anos. De cabelos morenos ela pegou o microfone do rapaz que havia feito a pergunta anterior e fez seu questionamento:
-         O que o senhor acha que seja ‘a rainha das águas’? Seria um ato de sincretismo?
Helio gostou da pergunta e se exaltou em responder:
-         Com certeza, o relato de Aquiles e o seu encontro com a rainha das águas seria uma contextualização de um fato de modo poético. Podemos perceber que Aquiles teve um encontro com a crença de outros deuses que os índios acreditavam. Por coincidência a divindade Yara se parecia com a Virgem, o que permitiu que os índios aceitassem a nova crença pacificamente. Em contrapartida temos que ter em mente que foram os índios que fizeram a assimilação entre divindades e não o colonizador. De fato o sincretismo religioso aqui não o foi forçado.
Depois desta explicação Helio Medeiros pegou outros documentos e sinalizou para o publico que voltaria a leitura.

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