sábado, 3 de dezembro de 2011

Escrevendo um Romance V: 5ª parte


CAVALEIROS E EXORCISTAS

©2011 Paulo Af.
Esta obra é uma ficção, não tem dados históricos oficiais reais e todos os personagens são fictícios, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.


ENCONTRANDO OS GUARANIS

Voltamos cansados da batalha e cada um carregava o outro nos ombros, como irmãos que se abraçavam. As guerreiras para demonstrar coragem, talvez, andavam com passos firmes. Diana continuava com um ar de superioridade, porém menos agressivo diante de nossa presença.
Quando regressávamos a aldeia, Fúria nos esperava com uma comitiva remanescente de guerreiras com lanças preparadas para o ataque. A velha pajé nos viu acompanhados com as guerreiras amazonas restantes e achou que havíamos sido capturados por elas devido a fuga.
Harpia disse algo no idioma delas e sua mãe entendeu e assim mudou o olhar para nós com menos severidade. Ela então falou em nossa língua ‘venham para a nossa cabana, temos remédios e ervas que fecharão as suas feridas.’.
No inicio ficamos de prontidão, pois poderia ser uma armadilha. Diana, contudo, reconfortou-nos com um olhar terno o que nos desarmou completamente e assim entramos na cabana grande e lá recebemos os curativos.
Os cuidados que recebemos nos trouxe recordações de nossas mães, às vezes até, mesmo outros sentimentos poderiam aflorar. Vossa santidade sabe o quanto para um homem que abdicou dos prazeres carnais é difícil lutar, tanto quanto enfrentar demônios e feras.
Pois bem, olhei para Diana e de repente senti algo que nunca pensei que teria por uma mulher. Por um momento eu reparei para o seu corpo nu e de cor ocre e vi uma beleza, que nenhuma mulher de Florença tinha. Seus olhos castanhos cor de terra pareciam refletir o que a minha alma escondia. Junto com outras curandeiras, ela passava ervas mastigadas e amassadas por pedras com suas mãos suaves sobre a minha pele.
Enquanto divagava sobre Diana, monsenhor Aquiles aproveitava a gentileza das guerreiras para saber mais de sua arte e magia: perguntava sobre as ervas e como poderia adquirir algumas para levar para o mosteiro quando a missão terminasse. Monsenhor Aquiles demonstrava um certo conhecimento de Botânica e assim pediu uma folha de papel, tinta e pena para catalogar as ervas.
A lua já se apresentava no céu quando todos estávamos descansando nas camas suspensas. Era algo diferente que poderíamos levar conosco e talvez presentear Vossa Santidade com uma destas engenhocas das nativas. Fúria mais tarde veio e aproveitou enquanto descansávamos para falar conosco. Disse que soube de nosso ato de bravura em salvar a sua filha e as demais guerreiras. Pediu desculpas por nos ter posto em uma cela. Contudo, concluiu que deveríamos sair daquela região quando o sol nascesse, pois para ela nossa vinda as suas terras somente trouxe mais dor que alegria.
Monge Aquiles entendia a magoa da velha e pediu perdão pelo que Atila e seus soldados trouxeram para ela. Também pediu ajuda para encontrar Atila e assim, por a missão em um final digno levando-o para as autoridades romanas que enfim lhe dariam o castigo merecido. A velha disse então que poderíamos seguir uma trilha que nos levaria para a aldeia dos Karanyo. Eles eram uma tribo amistosa, porém passaram a ser escravizados por Atila que os fez edificar uma casa enorme na mata feita de barro e madeira.
Aquiles e Michelangelo que estavam próximos sorriram um para o outro e sentiram a satisfação com a noticia. Enrico pediu para a velha pajé que se possível uma de suas guerreiras poderiam guiar-nos até a tribo Karanyo. Fúria disse que pensaria no assunto e assim nos deixou com um ar de esperança e felicidade diante de tais fatos.
Quando o sol saiu nos preparávamos para ir embora, mas antes fomos convidados a comer por Fúria. Fomos ao pátio da aldeia e lá estava algo que parecia um javali assando na fogueira, também havia frutas frescas que somente conhecíamos da especiaria da Índia e uma bebida que estava dentro de um grande pote de barro. Michelangelo lambeu os lábios e passou a mão sobre sua pança flácida. Bonelli demonstrando muita fome sentou-se logo perto das frutas e esperou ser servido.

Enquanto comíamos, Fúria dava as ultimas informações sobre o paradeiro de Atila e seu bando. Soube por uma tribo vizinha chamada de Guarani que os homens de Atila estavam tomando boa parte da região para si. Muitas tribos estavam se juntando a seu exercito e que eles estavam convertendo muitos para o cristianismo. Acredito que Vossa Santidade saiba que mesmo que ele convertesse o próprio Satã para Cristo, isto não o eximiria do castigo que lhe é devido.
Michelangelo perguntou sobre a índole dos Guaranis, pois temia que eles pudessem ser agressivos. Fúria disse que os Guaranis ao contrário dos Tupinambás ou das Amazonas eram mais pacíficos, contudo deveriam ter cuidado com eles. Resolvemos então sair dali e logo voltar a nossa missão. Aquiles disse que antes deveríamos voltar ao navio e pegar nossas armaduras e provisões, já que não sabíamos quanto tempo demoraríamos na ilha. Fúria lembrou do pedido de Enrico sobre um guia e disse que sua guerreira Buldica iria conosco. Agradecemos pela acolhida e fomos em busca de nosso navio.
Passamos boa parte do dia andando pela mata até avistar as velas de nosso navio entre as árvores. No inicio ficamos alegres e depois veio a decepção ao percebermos que o casco da embarcação estava avariado, por uma rachadura provocada pelo atrito com as rochas da praia. Enrico que já fez muitas viagens e entendia de engenharia náutica disse que o barco poderia se consertado, mas demoraria muito para isto ocorrer. Aquiles que estava mais preocupado em achar Atila disse que Deus providenciaria algo e que deveríamos pegar nossas coisas e seguir caminho.
Buldica com o olhar maravilhado olhou e tocou com delicadeza sobre o casco do navio. Ela parecia nunca ter visto uma embarcação em sua vida. Pegamos tudo o que tínhamos e por sorte dos vinte cavalos que trouxemos para a missão dez sobreviveram à viagem. Os alimentamo-nos e depois seguimos viagem neles. Aquiles disse para Buldica montar em um deles e assim nos guiaria com mais facilidade pela mata. Ela, porém preferiu seguir a pé mesmo, demonstrando temor pelo animal.
Enquanto cavalgávamos podíamos admirar a fauna e aflora da ilha. Parecia um daqueles contos de fadas e por um instante a mata que parecia tão assustadora de inicio me fez lembrar do Jardim do Éden como relatava as Escrituras. Quanto mais colocávamos nossos cavalos para correr, o vento mais forte batia em nossos rostos. Essa sensação de liberdade em um lugar como aquele era única.
Quando começou a anoitecer, Buldica disse que deveríamos ter cuidado, pois estávamos perto dos Guaranis. Michelangelo trouxe uma luneta, destas de ver estrelas que ele comprou de um mercador árabe, e com a engenhoca viu com os olhos de águia alguns Guaranis sentados na beira de um rio.
Buldica disse que poderíamos aproximar, mas com cuidado para não provocar sustos. Em seguida, ela foi a frente e chegando perto deles conversou em seu idioma. Percebemos que a língua dos Guaranis era diferente dos das Amazonas. Depois a Amazona nos chamou e assim saímos da mata. Os nativos nos olharam de cima abaixo e fizeram um sinal para segui-los. Não sabíamos o que poderia ocorrer dali em diante. Deixamos tudo nas mãos de Deus!

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