quinta-feira, 14 de abril de 2011

A questionável função da arte como documento histórico

A arte é o meio que o homem encontrou para expor a suas verdades. Digo 'verdades' porque não existe uma que seja absoluta, total, que abarque todas as nossas perguntas. Estava dando recentimente uma aula sobre a arte cristã primitiva e como as imagens ajudaram a propagar o cristianismo no Ocidente para os meus alunos do segmento da EJA.
 
Com eles pude analizar o quanto a imagem de Cristo mudava de acordo com as necessidades da Igreja. Nos primeiros anos das perseguições aos cristãos no período de Imperadores como Nero, Diocleciano e Constantino; o Messias aparecia sem barba e mais jovem feito nas paredes das catacumbas de Roma.
Depois no período românico o Cristo já aparece com barba e cabelos lisos. Apartir do século XIV em diante fixa então no incosciente colietivo o Jesus com traços europeus com nariz fino, olhos verdes e cabelo e barba bem ao estilo de astro de rock.
A questão é que não se tem muitos dados históricos sobre o Cristo, e nem sequer na Biblia fala-se de sua aparência. Aliás, A vida dele é envolta de mistérios e duvidas que a ciência até hoje procura respostas. Então, como podemos usar as pinturas sobre ele como documento histórico se a maioria das obras feitas ocorreram anos e décadas depois de sua morte? A resposta é:: não podemos! É um erro usar as imagens feitas para a Igreja como um testemunho do que ocorrera no período cristão, por mais que os artistas tenham usado os evangelhos como base para as suas obras, no fim existe uma adaptação é uma visão pessoal de quem fez a obra e de quem a encomendou.

Outro caso interessante é da obra 'O grito do Ipiranga' feita por Pedro Américo. Esta obra é usada em muitos livros de história como um documento histórico, quase que uma fotografia do dia da Independencia do Brasil. Porém, Pedro Américo não estava no dia em que Dom Pedroassinou o tratado de independencia com a Metropole e a cena do grito nem de fato ocorreu ( tudo foi mais discreto e sem alarde). Inspirado nas pinturas romanticas de Delacroix, Pedro Américo fez uma versão de cavalaria toda cheia de imponência e heroismo.

Outro fato curioso é o painel 'Primeira missa' de Vitor Meireles. O quadro foi feito na França quando o pintor estava estudando arte em Paris. Assim como Pedro Américo, Vitor Meireles romantizou um fato na qual não havia presenciado e usando como base alguns trechos da cartade Pero Vaz de Caminha. O resto foi imaginação e técnica.

No fim poucas obras podem ser usadas como um documento. Elas podem representar o pensamento de alguem sobre um fato de uma época mas não a verdade pura e absoluta. Das poucas obras documentais eu cito sempre a de Hans Holbein e os 'Embaixadores franceses' está sim, uma obra de cunho documental que serviu como prova da politica no periodo do século XV, exaltando a relação da renascença pós-reforma protestante.

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